Como Tocar
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A maioria das pessoas acham que tocar didgeridoo é algo complexo. Mas é mais simples do que parece. Em primeiro lugar temos que querer aprender, e, entender que qualquer instrumento musical, assim como qualquer evolução na vida, exige empenho, vontade, humildade, auto-conhecimento e amor.
Entramos em contato com várias partes do nosso corpo ao tocar. Temos que observar para entender a dinâmica de cada uma para aperfeiçoar e desenvolver as diversas técnicas que são proporcionadas.
Na respiração utilizamos o pulmão e o diafragma. A respiração diafragmal é a mais importante, pois fortalece nosso centro de energia e dá mais força e forma para o sOM.
Na boca usamos praticamente tudo; garganta, cordas vocais, espaço interno bucal, bochechas, língua com movimentos e posições e os lábios com a forma, posição e pressão para todos tipos de sons.
O didgeridoo é um instrumento do presente, Aqui e Agora. Ele nos ensina a observar esse eterno momento. É nesse instante precioso que conseguimos nos sintonizar com todo nosso corpo, entrando em contato com partes ainda desconhecidas de nós mesmos. Percebendo que diversos sons podem ser produzidos a partir de um lugar que você nem imaginava. Sente-se, respire e se prepare para uma longa jornada de aprendizagem corporal, pessoal, musical e espiritual.
A energia do momento lhe conduzirá ao som certo. Não se prenda a ritmos e sons específicos, primeiro se conheça, suas possibilidades e dificuldades e se entregue à isso tudo. Toque sem preocupação, com o coração. As técnicas e habilidades específicas serão aprendidas no momento propício, não se apegue à esses resultados. Apenas seja você e esteja integro na prática com o instrumento. Tudo será conduzido com amor e os resultados surgem sutilmente. Confie.
1ª Etapa:
Por tratar-se de um instrumento de sopro, a respiração é sem dúvida o combustível essencial. Como vivemos em uma sociedade cheia de conflitos e tensões, a maioria de nós ao longo dos anos desenvolve uma respiração inadequada, reflexo dos embates do dia-a-dia. Tomar consciência de nossa respiração é o nosso primeiro passo.
Busque um lugar mais tranquilo possível. Sente-se de forma confortável e com a coluna reta e respire de forma relaxada. Observe sua própria respiração durante alguns minutos.
O que nos dará força e resistência no didgeridoo é acima de tudo a respiração com o diafragma. O diafragma funciona como uma membrana fazendo com que o abdômen se expanda e se comprima conforme a respiração ocorre. Na inspiração ele desce, expandindo o abdômen e arrastando consigo a base do pulmão, o que aumenta seu volume interno e a sucção do ar. Na expiração, o diafragma vai para cima, comprimindo os pulmões e expulsando o ar.
• Coloque-se de forma confortável sentado ou deitado;
• Coloque a mão no abdômen (barriga) próxima ao umbigo;
• Feche os olhos e concentre-se em sua respiração;
• Inspire pelo nariz e encha os pulmões de ar, leve-o até o abdômen, percebendo que ele se movimenta. Você pode imaginar que está enchendo uma bexiga que está dentro de sua barriga. Ao inspirar conte até quatro (mentalmente) para que o pulmão e o abdômen fiquem expandidos;
• Retenha o ar por dois tempos (conte até dois mentalmente), mantendo a barriga e os pulmões cheios;
• Expire lentamente pela boca, contando até cinco, esvaziando completamente o pulmão e o abdômen;
• Reinicie os movimentos após reter os pulmões vazios por dois tempos.
Procure efetuar os movimentos respiratórios de tal forma que haja pouco movimento torácico (movimento do peito) e mais movimentos abdominais (movimento de barriga).
Repita dez vezes a respiração ou pratique por aproximadamente três a cinco minutos. Caso você sinta tontura ou veja “bolinhas” ao abrir os olhos, saiba que isso é normal e vai desaparecer. Isso acontece, porque o cérebro recebe mais oxigênio do que está acostumado, mas é interessante ir adaptando o ritmo de forma que fique confortável e não gere sensação de náusea.
Esse exercício de respiracao consciente com o diafragma e o abdômen pode ser realizado durante o dia em diversas situações cotidianas, como ao andar pela rua ou sentar-se num ônibus. Isso servirá nao apenas para o Didgeridoo como também para uma melhora do estado físico-emocional.
O Drone
O som no Didgeridoo é realizado ao vibrar os lábios à medida que expulsamos o ar para fora. Esse som primordial é conhecido como Drone. A dificuldade inicial está em manter a vibração dos lábios mesmo que estes esteja em contato com o instrumento. Pratique mudando a posição dos lábios até que você encontre a mais adequada. Você pode utilizar a posição frontal, com o centro dos lábios em contato com a embocadura, ou a lateral, utilizando apenas metade dos lábios.
Certifique-se de que o ar não vaze para fora do instrumento. Inspire, infle as bochechas e sopre gentilmente. É necessário relaxar completamente os lábios e o rosto. Caso o som não esteja saido é porque muito provavelmente você está pressionando os lábios com força. O maior erro dos iniciantes é justamente tentar soprar o ar com força; no didgeridoo o ar "escapa" pelos lábios tao gentilmente como numa conversa.
Experimente manter o som em até 10 segundos.
Bom, após conseguir manter o drone com segurança, pressione as bochechas infladas de ar contra os dentes e solte-as para encherem de ar novamente. Pratique até o ponto onde se possa realizar os movimentos com a bochechas sem interromper o som.
Quando você conseguir manter o drone e desinflar e inflar as bochechas por aproximadamente 10 a 15 segundos podemos passar aos exercícios de língua e iniciarmos a respiração circular.
2ª Etapa:
"Tonguing"
Os movimentos de língua é a técnica básica para introduzirmos rítmos ao Drone. Mantendo o drone, experimente tocar rapidamente o "céu" da boca com a língua, com se fosse falar "Ta-ta" ou "Da-da" mas sem realmente dizê-lo (sem usar a voz). Você pode também tocar logo atras dos dentes da frente, mas é essencial que o movimento seja executado rapidamente senão o drone é bloqueado.
Pratique este exercício de tal forma que você realize um "golpe" rápido com a língua para que o som resultante seja como um "batida" (beat).
Você pode fazer este exercício em qualquer Tempo (andamento). Experimente brincar com o tempo e os golpes de língua, como por exemplo: ta-ta-tata-ta-tata-ta....
O "Pêndulo"
Tal qual com o golpe de língua, a garganta também serve na elaboração de células rítmicas e em conjunto com o "tonguing", lhe trará versatilidade e velocidade. Assim, sem usar a voz, experimente dizer "ka" ou "ga". Observe que, sem o uso da voz, a garganta realiza um movimento muscular que irá cortar o fluxo de ar, causando assim o mesmo efeito que o "ta" ou "da".
Após estar confortável com esse exercício, experimente conjugá-lo com o tonguing: "Ta-ka-ta" ou "Da-ga-da". Novamente, pratique em diferentes Tempos e não se esqueça que o importante antes de adquirir velocidade é manter uma cadência rítmica regular.
Busque equalizar ambos os sons (Ta, Da - Ka, Da) de forma que o som de ambos seja o mesmo. O objetivo aqui é criar o efeito de um "pêndulo" entre língua e garganta de forma que nenhum dos dois músculos fatiguem, possibilitanto assim tocar por muito tempo e desenvolver velocidade.
3ª Etapa:
Respiração Circular
Antes de mais nada, é necessário entender que é realmente impossível inspirar e respirar ao mesmo tempo. A respiração circular é uma técnica em que utilizamos o ar reservado na cavidade bucal para manter a nota tocada enquanto inspiramos pelo nariz com a glote travada.
Como é realmente difícil explicar teoricamente, utilizamos aqui um pequeno video tutorial de um dos nossos parceiros e amigos da Magus Didgeridoo: